O diabetes mellitus (DM) é mundialmente uma das maiores causas de morbidade e mortalidade, e a prevalência tende a aumentar dramaticamente nas próximas décadas (Petersen, Shulman, 2006), sendo um dos mais importantes problemas de saúde pública mundial (Silva, Lima, 2002). Atualmente existem mais de 190 milhões de pessoas com diabetes no mundo, com projeção estimada de crescimento para 330 milhões até o ano de 2025, devido em grande parte ao crescimento da população e ao envelhecimento desta (Ministério da Saúde, 2007). O DM é uma síndrome de etiologia múltipla decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade desta de exercer adequadamente seus efeitos (Gross, Silveiro, 2004). A patologia compreende um grupo heterogêneo de distúrbios crônicos do metabolismo, caracterizando-se por hiperglicemia nos períodos pós-prandial e/ou de jejum, alterações do metabolismo dos hidratos de carbono, gorduras e proteínas, devido à deficiência da ação da insulina nos tecidos alvos (American Diabetes Association, 1999. The Expert Committee on the Diagnosis and Classification of Diabetes mellitus, 1997).
Os efeitos da hiperglicemia crônica do DM incluem lesões, disfunção e falência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, coração e vasos sanguíneos. Os efeitos tardios do diabetes incluem o desenvolvimento progressivo de complicações como retinopatias, nefropatias, neuropatias e amputações. Nesse sentido, os portadores de DM apresentam risco elevado de doenças cardiovasculares, vascular periférica e cerebrovascular (Gross, Silveiro, 2004. Atualização Brasileira Sobre Diabetes, 2005).
Os sintomas decorrentes de hiperglicemia acentuada incluem perda de peso, poliúria, polidipsia e infecções. Mesmo em indivíduos assintomáticos poderá haver hiperglicemia discreta, porém em grau suficiente para causar alterações funcionais antes que o diagnóstico seja estabelecido (World Health Organization, 1999). As duas principais classes etiopatogênicas do diabetes as quais a grande maioria dos pacientes diabéticos pertence são: diabetes mellitus tipo 1 (DM 1) e diabetes mellitus tipo 2 (DM 2). Destes o DM 2 é o estado hiperglicêmico de maior incidência, alcançando entre 90% e 95 % dos casos, acometendo geralmente indivíduos de meia idade ou em idade avançada (Silva, Lima, 2002).
O DM 2 resulta, em geral, de vários graus de resistência à insulina e deficiência relativa de secreção da mesma. Os riscos estão associados à predisposição genética e a fatores ambientais como o excesso de peso e sedentarismo. É uma síndrome complexa, progressiva e de difícil tratamento em longo prazo. A insulinoresistência é muito prevalente quando associada ao sedentarismo e obesidade. Uma elevada percentagem de pacientes portadores de DM 2 apresentam excesso de peso ou obesidade quando ocorre o diagnóstico e necessitam de terapêutica farmacológica para atingir e manter o controle metabólico, apesar de um controle alimentar e exercício regular (Gallego, 2005). O diagnóstico, na maioria dos casos, é feito a partir dos 40 anos de idade, embora possa ocorrer mais cedo, mas raramente em adolescentes (Atualização Brasileira sobre Diabetes: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2005; Sociedade Brasileira de Diabetes: Diagnóstico e Classificação do Diabetes mellitus e Tratamento do Diabetes mellitus do Tipo 2, 2003; Rosembloom, et al, 1999).
Os principais fatores de riscos para o DM 2 são particularmente sobrepeso e sedentarismo, onde estudos têm demonstrado que o incremento do índice de massa corporal (IMC) aumenta a incidência ou o risco de se desenvolver diabetes (Atualização Brasileira sobre Diabetes, 2006).
Estudos demonstram que a resistência à insulina é o principal caminho para o desenvolvimento da doença. Isto se deve a diminuição da síntese de glicogênio muscular estimulado pela insulina, que pode ser atribuído à diminuição da atividade do transportador de glicose (GLUT 4) estimulado pela insulina (Petersen, Shulman, 2006). Em condições hiperglicêmicas e hiperinsulinêmicas, a síntese de glicogênio muscular é a principal rota para o metabolismo da glicose tanto em indivíduos normais quanto em diabéticos, e um defeito nesta via pode levar a resistência à insulina em pacientes com DM 2 (Leahy, 2005).
Outro fator para o estabelecimento de um quadro de resistência à insulina é o aumento da concentração de ácidos graxos livres plasmáticos. Em um estudo com jovens de peso normal e descendentes de pacientes com DM 2 foi detectada uma relação inversa entre concentração de ácidos graxos plasmáticos e sensibilidade à insulina, consistindo com a hipótese de que uma alteração no metabolismo dos ácidos graxos contribui para resistência à insulina em pacientes com DM 2 (Shulman, 2000).
O exercício físico tem a capacidade de reverter às alterações nas proteínas mitocondriais musculares provocadas pelos estados de deficiência de insulina (Luciano, Rostom De Mello, 1998). Isto se deve ao aumento da translocação do transportador de glicose (GLUT 4) para a membrana das células musculares e adiposas (Luciano, Rostom De Mello, 1998. Feo, et al, 2006).
Segundo Goodyear e Kahn, o exercício é um importante adjunto no tratamento do diabetes. O exercício físico e a insulina utilizam diferentes caminhos de sinalização, ambos levando a ativação dos transportadores de glicose, que talvez explique porque em pessoas com resistência à insulina aumente a quantidade de GLUT 4 em resposta ao exercício físico.
Durante o exercício físico, uma das mais importantes respostas regulatórias é um aumento do fluxo sangüíneo para contração muscular, que promove aumento de substrato para o trabalho muscular fazendo com que a glicose disponível não seja um fator limitante para a utilização desta quando o exercício é realizado em condições fisiológicas normais (Goodyear, Kahn, 1998).
O período posterior ao exercício é caracterizado por elevados níveis basais e do metabolismo de glicose estimulado pela insulina. O mecanismo celular que leva ao aumento da sensibilidade a insulina depois do exercício tem sido hipoteticamente envolvido com a sinalização da insulina (Goodyear, Kahn, 1998).
Em um estudo que analisou o efeito do exercício físico regular no controle glicêmico em indivíduos com DM 2, tratados e não tratados com insulina, observou-se: diminuição crônica da glicemia, níveis de colesterol total, LDL-C e triglicerídeos menores, HDL-C maior, e diferença significativa na freqüência cardíaca de repouso (Silva, Lima, 2002).
Embora muitos fatores devem estar associados para garantir uma melhor qualidade de vida ao paciente com DM 2, sabe-se que o exercício físico é um fator importante na prevenção e auxílio no tratamento do diabetes (Crepaldi, et al, 2005).
Estudos têm demonstrado que o exercício físico diminui a hipertensão arterial, contribui para a redução do colesterol e triglicerídios, colaborando na redução e evolução das doenças cardiovasculares (American College of Sports Medicine & American Diabetes Association, 2000), além de contribuir para a redução de peso, bem como na manutenção do peso normal e da massa muscular se o exercício for associado a uma dieta equilibrada (Neuhouser, et al, 2002).
O exercício físico é fundamental para o controle glicêmico dos portadores de DM 2, uma vez que o sedentarismo é a principal causa do aumento da incidência de várias doenças. Hipertensão arterial, diabetes, obesidade, ansiedade, aumento do colesterol, infarto do miocárdio são alguns dos exemplos das doenças às quais o indivíduo sedentário se predispõe.
Segundo o Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS) no Brasil, no período de janeiro de 2002 a outubro de 2005, foram registrados um total de 737.667 pacientes portadores de DM 2. Deste total, 363.881 pacientes não praticavam nenhum tipo de exercício físico, ou seja podemos considerar que 49,3% da população com DM 2 no Brasil é sedentária (DATASUS).
Estes são dados bastante preocupantes, uma vez que o sedentarismo é considerado o principal fator de risco para a morte súbita, estando na maioria das vezes associado direta ou indiretamente às causas ou ao agravamento da grande maioria das doenças especialmente o DM 2.
A prática de exercício físico bem como a adoção de um estilo de vida ativo, proporcionam ao indivíduo uma série de adaptações desejáveis a nível metabólico, cardio-respiratório e músculo-ósteoarticular proporcionado saúde e conseqüentemente melhor qualidade de vida.
A respeito dos benefícios do exercício físico no tratamento do diabetes, a American Diabetes Association (2004) conclui que: "o treinamento físico esta comumente associado a uma diminuição da ansiedade, melhora o humor e autoconfiança e um aumento do bem estar. A melhora de qualidade de vida pode ser um benefício secundário, resultante de um treinamento de força (aumento da massa muscular, flexibilização e amplitude do movimento) principalmente nas populações mais idosas, no qual o DM 2 é predominante".
Assim, podemos concluir que o tratamento do DM 2 é especialmente uma mudança no comportamento e estilo de vida para hábitos mais saudáveis e exercícios físicos que prolongam a expectativa de vida. Para isso, deve-se investir no incentivo a prática do exercício físico não somente nos pacientes com DM 2 mas em toda a população.
Referências bibliográficas
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A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO E SUA RELAÇÃO COM DIABETES MELLITUS TIPO 2
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
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